quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Dai-me tempo. Meu

Ah essa vontade de viver
Que não me abandona
Que rouba de mim
O encontro com a dor que me apaixona
E que me deixa entregue, imerso, livre
Quase sem pudor

Ah essa falta de vergonha
Que invade tudo que me cerca
Impõe enxurrada de cores
Num arco-íris vivo envenenar
Roubando de mim as sombras
Por onde posso me ausentar

Se eu soubesse algum atalho
Por onde pudesse sentar livre
Encontrar o meu silêncio
Distante de tudo e de mim
Poderia com carinho me namorar
Para ai sim, apesar de tudo, recomeçar

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Paternidade

Não, eu não faço poema que quero
Faço o que sou capaz

Aquele que sai por vontade própria
Que desrespeita meu desejo
E de forma insubordinada
Transborda, foge de mim

E nas horas em que mais preciso
Me dá adeus, me surpreende
E vai embora
Levando consigo
Ao olhar de quem de fora
Torna-se mundo
Conta sua própria história

Definitivamente
O meu poema não é meu
E nem será seu
Ele é semente
E tem vontade própria

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Quando amo

Não sou permeável, assim
Não diluo fácil, não há fusão
Meu tronco, minha mente
Andam em vias inversas, contramão
 
Mas ao encontrar areia macia
Em terreno fértil de luz, sabedoria
Derreto por inteiro, viro líquido
E num pulsar de desejos, evaporo
 
São instantes únicos, metamorfoses
Onde deixo de ser o que pude
Para me tornar balão de gás e subir
Ao encontro da luz que me transforma

sábado, 5 de outubro de 2013

Estações

Onde mora minha coragem
Que sobrevive a tamanha desordem
De onde ela vem
Que caminhos percorre
Quais os lugares que me levará
 
De certo
Diante de tudo incerto
É que estou a deriva de mim mesmo
Percorrendo distâncias imensas
Em sol de purgatório, sentença
 
Mas não julgo querer diferente
Minha dor é caminho novo
É dela que parto, que desejo mais
É solo transitório de deserto
Em plena primavera, solidão
 
É dor de ventre materno
De colo macio que afasta
Que leva distância segura
Inverte meus polos
Transforma tudo que fui
Me faz verão

terça-feira, 1 de outubro de 2013

E agora, quem não sabe amar?

Seu amor é guarda blindada
Disfarçado livre desejo de amar
Que prende por não ser atacado
E morre por não saber existir
 
Teu ciúmes não nasce no peito
De onde todo amor se acomoda
Ele invade seus medos e lutos
Brotando das feridas da tua história
 
Já sua beleza é diferente
É algo latente pedindo passagem
Querendo sentir o cheiro ausente
Detrás dos muros, do lado de fora

"Função"

As noites servem
Para que outros continentes
Possam exercer a loucura do dia
Para que nossas almas
Possam permanecer em silêncio
E nossas mentes encontrem
Os sentidos dos nossos desejos
 
Servem também
Para dar vazão aos sorrisos
Libertar sombrio dos beijos aflitos
Das canções que não se calam
Embalando as horas dos que amam
Dos que foram amados
E dos que sonham ainda ser possível
 
Mas quando nada disso acontece
Cabe-nos o canto recatado e vazio
Da sala de estar que nos protege
Do frio cortante que nos domina
Em noites frias e vazias
Separa o silêncio generoso e só nosso
Do barulho tosco dos aflitos por "viver"