segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Ser Eu | Ser Você

Freio de mão,
Catraca e corrimão.
Rabo de porco,
Carré de morto. Limão.
Mata arrancada,
Carne que sangra,
Gente que mata.
Que gente?

Quero o dia,
Luz a vista.
Meu passo livre,
Vitrine sem vidro,
Cachorro com latido,
Gato semente,
Traslado sem direção.

A ordem que causa,
Mente minha desordem,
Faz com que eu acorde,
E nem tente,
Somar pela igual aparência,
Embaçada lente.
Não tento. Não tente.

Gente | Mente

Ah se pela mente
Mais do que de repente
Houvesse a chance
Da gente ser diferente
Com menos dor
Cheiro de rosa liquidificador

Ah se pelas redes
Ruas, vielas e corredor
Pudéssemos encontrar com gente
Pura feira livre de dor
Sem ranço ou faca que corta
Sem vida futura cheia de mágoa

Ah se não houvesse se
Medos, sentidos alterados
Meias verdades, inventos
Que a realidade fosse agora
Sem meio silêncio, amor eterno
Contato íntimo sem lamento pudor

Se houvesse gente que não mente
Eu seria regente da minha história
Sem medo que outrora
Suas mágoas e dores
Viessem ofuscar as cores
Do amor que lhe ofereço agora

Banco de Cascalho (ou kuru'mba)

Não adianta perambular
pelos 4 cantos do mundo.
O mundo é redondo,
nele não há cantos.
Mas existem recantos,
e poesias que canto,
que embalam meus sonhos,
e me fazem existir.

Cara metade sou eu,
um transformado em dois.
Quando aqui cheguei,
não havia vizinhos.
Minha casa era redonda.
O dia partia para a noite chegar.
As mares secavam para depois,
poderem transbordar.

As verdades
sempre podem mudar.
Nesse mundo que muda,
sou feito de ciclos.
Sou feito de sonhos e luzes difusas.
Cheguei aqui para ficar,
para sorrir e para chorar.
Com você por perto,
ou pra lá de Corumbá.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Meu pássaro que voou

Pela primeira vez
Posso ver a dor, toca-la
Marcas assinadas em meu braço
Por alguém que me amou
Materializada, Inteira a dor
Num ondular de vai e vens, envenenar
Que chove por horas convívio sem flor
Se faz a paz, apagam-se as velas
 
Nesses dias em que a dor me serve whisky
Essas marcas diminuem e quase partem
Esvaindo-se pelo punho que aflora
Em noites que outrora não dormi
Mas nos dias em que estou só
Minha dor se faz presente
Toma espaço, se avermelha
Nas feridas deixadas por um beija flor


Eu escuro

As verdades são melhores vistas
No escuro do silencio da casa
Na coragem que nasce
Da urgência da minha fala

Quando a noite acaba
Me despeço de quem pude ser
Nas horas embriagado
Em que pude ter você

Do que sei, do que pensei
Que um dia daria pra ser
Sei que fui maior do que pensei
Me tive assim, sempre com você

Mas agora que nada restou
Continuo a ficar no escuro do quarto
Em que mora aquilo que tudo sou
Melhor de mim, melhor que te dou

sábado, 10 de agosto de 2013

Projeto interrompido

(da série olhar de filho)

Vejo apenas minha face
no espelho em que te olho.
Tua ausência se completa
no silêncio que restou. 

Reflexo um tanto torto
do que sou eu sem você,
nesse apartamento decorado
com as cores do teu gosto. 

Palavras ecoam no silêncio
que se quebra, apenas,
pelo vai e vem dos carros
da avenida ao lado.

Penso nos meus pés
que tropeçam
nos cacos que encontro
espalhados pela casa. 

Beleza já não resta mais.
Já não vivo com conforto,
e não encontro o teu corpo
nos lençóis da minha cama. 

Nunca fui inteiramente eu,
restando apenas o meu choro
nesse mundo sem sentido,
nesse tempo que se foi.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Sigo encontrando

Documentos que registram
tempos atrás,
que agora me parecem
tarde demais. 

Cartas, fotos, livros, vinhos
e muito mais.
Conta gostas de um tempo,
um tempo que não volta mais. 

Lembranças líquidas,
que mancham, diluem
tudo aquilo que quis,
tudo aquilo que fiz. 

Andar sobre pés,
insubordinados pés,
que buscam se curar,
que buscam não mais encontrar.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Me libertar

Devo caminhar e experimentar
O destino que chega, que se revela
Que traz sentido, expõe motivos
Atravessa o tempo e me faz melhor 

Devo negar a morte, não me acovardar
Não me furtar dos desejos legítimos
Das histórias, das pegadas marcadas
Aproveitar a luz do fim da tarde e sonhar 

Devo acreditar, me reinventar
Não contar com o amanhã e apostar
Sem ter que temer, poder gozar
Sem garantias: sorrir e amar 

Devo discernir, me afastar
Do equívoco alheio, que não é meu
Que passa e repassa uma vida inteira
Nem sempre sua, uma vida dura 

São raízes fincadas em superfície crua
De terras secas em constante luta
Que se debatem sem saber ao certo
Pra onde ir, de onde partir 

Devo ter sabedoria, me apropriar
Da sorte dos que ainda vivem
Que abrem o peito em noite de lua
E que, assim, perdoam por sabedoria

Naquele Momento

(da série olhar de filho)

Vi a fraqueza em seus olhos, você nada mais sabia.
O sol alto como desafio,
decisões a serem tomadas,
você não falaria.
 
Nos seus movimentos já se via fuga.
Questão de tempo, te veria correndo.
O que restou da tua ausência?
livros antigos, sentimento de enjoo.
 
Preso num cotidiano sem sentindo,
andando como se não mais existisse,
e no meio do choro não achei teu sorriso.
Não senti teu cheiro.
 
Papeis em branco foi o que encontrei.
Poesias não nascidas de um amor que se foi.
Beijo a mão do tempo e peço que não me mate,
que me traga um novo sorriso,
um sonho novo que me faça sorrir.