terça-feira, 29 de setembro de 2009

NAVEGO

A meu ver não existe:
Passado que não possa voltar,
presente que não possa passar
e futuro que não se possa evitar.

Nesse vai e vem dos fatos,
navegamos, nem sempre no comando,
mas sempre que possível,
com os olhos voltados para o norte,
sem nunca perder a noção do sul.

Não há nada mais apavorante
do que estar, a deriva, em alto mar.
Porém, nada mais libertador do que
estar perdido, rendido e entregue.

Quando achamos que somos mais livres,
é, justamente, quando estamos mais presos.
Negar um amor é declinar do vai e vem do mar,
onde podemos encontrar um porto seguro para descansar,
e partir quando a hora chegar. Se chegar.

domingo, 27 de setembro de 2009

Só meu (Momento)

Evolui, venho evoluindo.
Começo, com mais facilidade,
a não jogar fora momentos bons,
lugares onde estive,
amores pelos quais me rendi,
amizades, muitas.

Isso é o mais simples e ao mesmo tempo tão difícil.
Uma paralisia, uma deficiência, um limitador.
Nunca quis e continuo não querendo,
quero o movimento,
o olhar, o toque e a sorte.

Estar lá, na hora certa,
no instante da foto,
no momento certo.
Mesmo que seja só meu.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

BATENTES

Atravesso um estreito corredor.
Abro mão de parte de um pouco, tudo.
Percebo a ausência permitida,
autorizada pela minha consciência.

Sigo caminhando, deixando pelo caminho
alguns pensamentos, coisas que me apeguei.
Medos que nascem mais rápido que minha percepção.
Continuo caminhando em um corredor
sem paredes, sem teto e sem limites.

Perco e me acho para depois, voltar a me perder.
Percebo-me e me visito, e ao fazer isso,
descubro a existência de portas,
portas sem batentes, já que sei que não há paredes.

Mas não me perco, sei o lugar onde estou.
Sei de onde estou vindo,
e que no final vou estar bem.
Só não sei aonde e nem com quem.

FLORES

Um cara enfeitiçado pela lua em plena luz do sol.
Sinto-me as margens de um tempo medido.
Como poderia medir a vida através do tempo.
Como poderia me sentir mais forte sem ser gentil.

Dia e noite, sol e lua.
Minha vida, o meu fim.
Meus amores, minhas dores.
Fala mansa, uma dança lenta.

Uma renda delicada vista de perto.
O que é certo é o arrepio da dor curtida.
A sombra aflita deixada na sua partida.
As horas lentas nos primeiros momentos sem você.

O retorno ao dia a espera da sua volta,
da lua, do nascer do sol, das manhãs, do café a dois.
Do lençol sujo, do travesseiro marcado.
Do beijo interrompido, mesmo que longo.

Do seu cheiro que parte lentamente.
Da saudade deixada pelo seu sorriso.
Do ciclo que se inicia no meio do dia,
que não tem fim, não tem sol e não tem lua.
Mas faz da minha vida um colorido jardim.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

TROCA DE PELE

Numa fração te tempo,
percebo que perdi o controle.
O que poderá vir de frente não depende,
não passa pelo meu desejo.

Derivo num tempo ao qual não pertenço.
Sofro pelo que ainda não me atinge,
mas que independente desse tempo, me aflige.

Ainda não rendido, busco a solução
de um problema que não existe.
O que vejo e percebo é que meu presente,
não mais agora, determina o que virá.

Isso já ficou, esse erro eu já cometi.
Um passado que se sobrepõe ao que faço.
Um futuro que temo ser um espelho do agora,
do que vivo e do que não posso mais mudar.

Aprendo com isso, que nem sempre
o que fazemos, determina o que iremos fazer,
mas sim o que já fizemos, o que já se foi.

Passado marcado na memória da pele do meu tempo,
tatuado, entranhado e aumentando os meus dias.
Deve haver um jeito de mudar esse tempo.
Mas eu não sei como, não agora.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

FATAL

Foram apenas dois dias, quando te conheci.
Um a mais que um e um a menos que três.
Quando percebi, você já havia partido,
ido sem deixar muitas pistas:
Morena, apesar de gaucha.
Comprometida, talvez nem tanto.
Linda isso eu pude perceber.

Mas o tempo que demorei a ver, vinte e quatro horas,
um a mais que um e um a menos que três, foi fatal.
O tempo passa quando você não olha.
Penso que ainda há tempo para nós,
suponho que o que ocorreu, nos aproximou.
O já dito mais que um e menos que três, nos favoreceu.

Penso ser insano desejar o eterno,
acredito ser saudável desejar partir.
Encontro razão no doce sabor, no cheiro forte
que tudo que é bom acaba deixando.
A saudade nasce do amor, enquanto a partida
é composta do que já se foi, e que, quase sempre,
vem após o tempo certo. Dito isso, devo assumir que:
Prefiro um amor louco a ser louco por um amor.

domingo, 13 de setembro de 2009

DESCONSTRUINDO

Em pé sem poder andar.
Deitado sem conseguir dormir.
O meu sorriso não nasce da minha alegria.
O meu choro não revela todas as minhas mazelas.
O que demonstro nem sempre é visto.

O meu oposto não revela como estou.
As minhas horas nem sempre correm.
O que ocorre nem sempre é real.
De lado ou oposto sigo decifrado.
Decifrando, sigo ao lado de mim mesmo.

As margens de quem eu me tornei,
que de verdade nem eu sei se dou conta,
encontro correntes e sigo.
Cansado, cauteloso e sem coragem,
deixo um pouco de tudo para trás.

E dessa forma, e com cheiro de mofo,
encontro algo de novo,
para nunca mais chorar por alguém
que não possa me fazer feliz.