terça-feira, 30 de julho de 2013

Pensar sem corrimões .. olhar rejuvenescido, potencializado: Olhar de filho!

Pude ver naquele momento a fraqueza em seus olhos. Você nada mais sabia. O sol estava alto no horizonte, com o desafio de um dia inteiro pela frente. Alguma decisão deveria ser tomada e, no entanto, eu tinha a certeza da sua incapacidade em falar o que era necessário. Nos seus movimentos já se via a fuga. Não demoraria o momento em que te veria correndo e, mesmo assim, alegraria até o fim, você que ainda estava ao meu lado. Mesmo com a constatação de que naquele ambiente, eu era o único. Não esperava outra atitude. Algumas pessoas não tem a capacidade de ser menos de que a expectativa, e assim sendo, acabam sendo muito menos do que o esperado. É sinal de fraqueza se achar tão bom a ponto de não se permitir magoar o outro, quando a sua própria vontade não vai de encontro a do tal outro. Porque com essa desesperada fuga nada pode vir de bom, nada que acrescente. O que me restou da tua ausência, foi uma dúzia de livros antigos, além claro, daquele sentimento de enjoo perante o cotidiano sem sentido de toda essa estirpe robótica dos dias de hoje. Teria eu a capacidade de entrar no automático, e sair por aí andando como se não mais existisse? Ou talvez eu pudesse me matar de trabalhar até não dispor mais de um cérebro... No meio do meu choro, de minhas lagrimas, não achei teu sorriso. Nem tua boca e nem teu cheiro. Papeis em branco foi o que encontrei. Poesias não nascidas esperando para descrever o amor que queria viver com você. Mas agora que não disponho mais dessa possibilidade, cabe amassa-los em pequenas bolas e joga-los fora, como qualquer homem magoado faria - além do álcool, é claro. A filosofia não me parece digna... Vem de um mundo diferente e superior. Vem das bocas dos deuses clássicos e das lindas musas de todas as épocas revestidas de ouro. Se não me cabe mais o que antes tinha a certeza de ver no horizonte, beijo o tempo, esperando que ele não me mate. Esperando que me traga o que sonhava viver contigo. Vejo apenas minha face no espelho em que te olho. Tua ausência se faz completa e tudo que fica - nesse apartamento decorado com as cores do teu gosto - é um reflexo um tanto torto do que sou eu sem você. Palavras ainda podem ser ouvidas, ecoando num silencio quebrado apenas pelos carros na avenida ao lado. Ficam pela casa os cacos perdidos de um projeto interrompido. Como posso ter construído cada pedaço meu, pensando apenas em você? Agora já não resta mais beleza alguma. Vivi sempre tranquilo, sabendo do conforto que sua presença - que julgava eternamente fixa - me traria em todos os dias de minha existência. Eu, sempre vivendo pela metade. Nunca fui inteiramente Eu. Desde o dia em que me emocionei ao ver o contorno do sol, revolvido pelo azul gasoso do céu, a vida me parece completamente sem gosto. Ao ver refletido todo meu espectro emocional naquele simples nada, chorei como uma criança que acorda perdida nesse mundo sem sentido, o primeiro choro magistral, o choro dos vivos. Se ao chegar aqui os bebes se colocam a chorar, já se promete naquele exato momento, que a estadia não será agradável, pois caso fosse, os bebes nasceriam dançando e cantando. Mas tem algo, indistinguível nessa nuvem de poeira, que atrai os sentidos dos homens que sentem, dos homens que "pensam". Estes correm com seus cérebros sobrecarregados de vida, muitas vezes desesperados e loucos, mas ao acordar, sabem em algum lugar de si mesmos, algo que nem mesmo podem explicar. Houve momentos em que o simples contemplar do barulho ensurdecedor das ondas do mar, explicaram muito mais do que naquele momento poderia sequer ser imaginado. Ao entorno desses homens estranhos, mais homens estranhos, repousando num tipo distinto de estranheza, diferente da dos primeiros, algo infinitamente mais grotesco. Perdidos entre as horas e os pequenos problemas da vida padrão, aqueles que se emocionam ao ver o brilho do sol não entendem como podem os que dormem, não verem aquilo que pra eles é tão gritante. Ó meu caro, se agora as lagrimas começam a correr pelo meu rosto, não é por estranhamento aos tais "sonâmbulos", mas por amor a eles. Se a irritação dos "nobres de espirito" chega a abalar o equilíbrio deles, é por puro desentendimento. Tal categoria de homens tem em sua amplitude de visão, a gênese de sua cegueira. Querem o agora, pois o futuro ainda não é, e o passado não os contenta. Não querem saber da cor das toalhas, nem dos carros cada vez mais velozes, querem apenas aquilo que os relembrem que o "mundo" não é só a eterna comedia em que se veem diariamente. Um certo companheiro -desses que vive por aí, meio angustiado, meio louco, desses que olha pra formigas com um olhar eterno e pulsante - passa suas horas de manipulação escrevendo pequenos textos espontâneos, vomitados por uma necessidade de SER. Em tais textos estão contidos olhares que ratificam aquilo que ele anda buscando, mas que não acha: o SER - dizem que tal estado existe, mas poucos foram os momentos em que se teve certeza disso. Em sua contemplação do SER, que raramente vê, tudo que não É o incomoda. O estado padrão marcado pelo não SER traz a superfície de sua mente que É, uma silenciável questão: estamos vivendo - ou tentando viver, na medida do possível - entre cadáveres já apodrecidos, pessoas já há muito mortas, sepultadas em sua própria pequenez. Mas os humanos solares que as vezes olham os mortos de cima, logo lembram que não se encontram em cima, porem, inacreditavelmente embaixo. Pois sua posição inferior é não verdade toda a sua superioridade. São duros e implacáveis com eles mesmos, se jogam no lodo da existência, pois sabem que toda a "luz" (existência-tudo), surge das "trevas" (inexistência-nada). Alguns deles, com egos mais inflados e conceitos de si mesmo um pouco maiores, se fecham ao rebanho, calam-se porque não aguentam mais. Perderam a paciência, sentem pena, pois no fundo se acham melhores - há alguém que possa culpa-los? São seres sofridos, existem onde a inexistência é o normal. No fundo sabem que não são melhores. Alguns cogitam alienação, automatização, mas sabem que NAO possuem essa escolha. Se tornar robô não é e nunca será opção, mesmo que mais fácil. Cabe aos "solares" mais "leves" - mesmo com toda a carga que também carregam - continuar com as palavras amargas que trazem a doçura para aqueles que vivem numa eterna preguiça mental. É duro conviver com gente que busca o "paraíso" fora de si. Mas enquanto houver a brisa e o sol matinal, a noite estrelada e o vermelho pulsante do amor-paixão, os "solares"- os verdadeiros Cristos tem algo pelo que lutar. Continuemos irmãos, lutando pelos nossos paraísos individuais - nos quais ninguém pode entrar, mesmo que possamos entregar-lhes flores recém colhidas - polindo nosso interior IMPERECÍVEL, sabendo que carregamos verdadeiras palavras de amor dentro de nós. Amem-se a si mesmo, por isso, cultivem-se, mas NAO se esqueçam de entregar as flores que brotam do interior de vocês mesmos. Os homens, ao contemplarem sua própria fraqueza, fundam a sociedade, uma tentativa de remédio paliativo para toda a insegurança humana. É de se esperar, portanto, que eles lutem com toda a energia que lhes é destinada, contra aqueles que nascem pra mudar o estado inerte em que se mantem os covardes por trás da mascara CIVILIZAÇÃO.

"Minha solidão não tem nada a ver com a presença ou ausência de pessoas… Detesto quem me rouba a solidão, sem em troca me oferecer verdadeiramente companhia….” Nietzsche

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